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Você é ou você está?

Como um questionamento me fez pensar o que eu sou ou quero ser.
Você é ou está opinião blog coordenação

Certo dia, em uma formação, ouvi que “todo profissional ao se formar, deseja construir uma carreira, crescer dentro de suas profissões, mas na educação isso não acontece.” É como se fosse um erro ou loucura você desejar ser coordenadora pedagógica ou diretora escolar. 

Ao iniciar minha graduação, eu não enxergava outras possibilidades de atuação, além da sala de aula, até ouvir que eu seria uma boa coordenadora. Aparentemente porque eu fazia boas observações e conseguia fazer boas devolutivas ao grupo.

Fiquei com aquilo na cabeça durante toda a graduação e me questionava se ser coordenadora era só isso “fazer perguntas e dar encaminhamentos”. Se realmente fosse só isso, parecia fácil e porque não tentar ocupar esse lugar?

Aqui vale uma pausa porque outra frase que sempre me chamou atenção foi: eu não sou coordenadora, eu estou coordenadora. Como se fosse uma vergonha você ser coordenadora pedagógica. 

Ao entrar no Pró, sem nenhuma experiência em sala de aula, me deparei com coordenadoras que faziam muito mais do que só fazer perguntas e encaminhamentos. Elas me provocavam com boas perguntas, entravam na sala de aula com olhar investigador e atentas ao que fazia. Nas nossas reuniões semanais eu era convidada a olhar para mim, para minha parceira e para o grupo de alunos. Toda essa observação era feita com a presença e participação direta da nossa coordenadora. Sem contar a escrita semanal dos nossos registros reflexivos e planejamentos que contavam com o apoio e direcionamento da coordenação, buscando abrir novas possibilidades de fazer e de construir novos conhecimentos em mim e nos alunos. 

Quando me colocava no papel de observadora das minhas coordenadoras, via materializada, na ação delas, o que lia nos textos de Madalena Freire “Não se constrói sem disciplina, sem rigor e sem comprometimento”. 

Com elas aprendi de fato o que significa ser coordenadora e então passei a SONHAR esse lugar. 

Após 7 anos no Pró, um sonho se tornava realidade, fui convidada a coordenar um dos programas. Contudo, com o sonho realizado, veio a insegurança, medo e angústia. Como se começa a coordenar? Por onde começar?

Foi preciso muito aprendizado para lidar com a autonomia e buscar as melhores decisões para mim e para o grupo de educadores que caminhavam junto a mim. Havia aprendido muita coisa na teoria, mas foi na prática que consegui aprender a diferença entre autoridade e autoritarismo. 

Foto: Lana Pinho

Deu – e ainda dá uns “medinhos” –, mas nada se compara com a alegria e a satisfação que tenho quando escuto de um educador que aquela conversa foi importante para ele. Que aquela reunião planejada o ajudou a pensar sua prática. Que felicidade me dá quando vejo educadores autônomos, se arriscando e sendo autores dentro de suas salas de aula. 

Um dia perguntei para minha diretora: eu sou uma educadora ou coordenadora? E ela lembrou de uma passagem da Madalena Freire, que dizia que “Educador é aquele que Educa a Dor. A dor desta busca do que me falta. Porque dói aprender. Dói, porque lidamos com o que não se tem ainda, lidamos com o que falta.”.

Hoje penso na palavra COORDENAR e me alimento do mesmo pensamento da Madalena: coordenar, de DAR A COR. Acho que é isso, o coordenador ajuda a dar aquela cor especial no fazer do educador, na ação com as crianças, com os jovens, com as famílias e a equipe. É ele que dá o brilho, encoraja e faz todos renovarem seus compromissos em garantir uma educação de qualidade para crianças e jovens. 

Como todas as profissões temos nossos desafios, burocracias, coisas chatas que precisam ser pensadas e arranjadas. Coordenar não é fácil, como mencionei no começo do texto, mas me sinto feliz em provocar na minha equipe, tudo o que as minhas coordenadoras me provocaram e continuam a provocar. 

Não consigo enxergar minha vida como educadora, e agora como coordenadora, se eu não tivesse conhecido diferentes mulheres no Pró. Foi através da potência e conhecimento da Denise Nalini, Maria Cecilia, Fernanda Renner e Cris Mendes, que me senti encorajada a seguir. 

Então, se essa função dentro da escola é tão importante, porque eu teria que ter vergonha de assumir que sou coordenadora pedagógica? Será que é vergonha, medo ou receio que leva alguém dizer que “estão algo”, ao invés de “ser algo”?

Que um dia todas as profissionais da educação desejem e se preparem para serem coordenadoras e que essa profissão seja tão valorizada e conhecida como são as educadoras, médicas, advogadas, engenheiras, etc.

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