É com uma mistura de humor e inquietação que vejo a necessidade de compartilhar algumas reflexões sobre uma situação que tem me tirado o sono (ou melhor, a leitura) ultimamente. Estando no Pró, sou testemunha de muitas histórias surpreendentes e paradoxos que nos rodeiam, mas há um em especial que tem me feito coçar a cabeça.
No Pró, temos a Biblioteca Mais Linda do Mundo, um refúgio de conhecimento e imaginação no coração pulsante de Paraisópolis. Desde o ano passado, decidimos abrir as portas para lançamentos literários de autores de literatura infantojuvenil. Uma iniciativa que, em qualquer outro contexto, seria digna de manchetes e cobertura jornalística em massa. Porém, para nossa surpresa (ou talvez não tanto assim), o interesse da imprensa foi mais escasso do que um oásis no deserto.
É curioso pensar que, em tempos não tão distantes, alguns políticos rotulavam a compra de livros como coisa de “gente rica”. No entanto, aqui estamos nós, desafiando estereótipos e derrubando barreiras ao trazer os holofotes literários para dentro da favela.
Será que comprar livro é realmente coisa de rico? Será que simplesmente não temos oportunidades suficientes para nos conectarmos com os livros? Ou será que só nos enxergam sob o prisma dos conceitos pré concebidos?
Nesse incômodo, me lembrei de um lançamento que fui, em um shopping na principal avenida da cidade, a emblemática Paulista. Nessa lembrança, pensei na quantidade de pessoas que foram no lançamento e nas dezenas de livrarias que existiam nos 3km da avenida. Em paralelo, lembro dos últimos lançamentos na nossa biblioteca e o mar de crianças e jovens que compareceram e inundaram os autores com perguntas incríveis sobre os livros. Com essa lembrança, outra pergunta surgiu: e em Paraisópolis, onde estão as nossas livrarias? Afinal, em nossa Biblioteca Mais Linda do Mundo, já emprestamos mais de 120.000 livros, o que indica uma sede voraz por conhecimento.
O fato é que, enquanto alguns bairros possuem um excesso de livrarias, em outros, como o nosso, elas são raras como diamantes. Isso não reflete apenas uma falta de oportunidade, mas uma demanda reprimida que clama por ser atendida.
Então, por que não tornar os livros acessíveis a todos? Afinal, livro deveria ser coisa de todo mundo.
Enquanto nos esforçamos para desbravar novos horizontes literários em meio as vielas de Paraisópolis, que possamos também desafiar os preconceitos e abrir caminho para um mundo onde a leitura seja verdadeiramente universal. Quem sabe possamos até mesmo ver as manchetes dos jornais clamando: “Paraisópolis, a nova capital da literatura infantojuvenil!” Até lá, vamos continuar virando as páginas e contando histórias, uma linha por vez.