Paraisópolis lê, sonha e resiste

A importância de espaços de leitura e lazer na maior comunidade de São Paulo, onde livros, cultura e afeto transformam vidas desde a infância até a juventude.
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Como jovem moradora de Paraisópolis, comunicadora e articuladora cultural, sempre senti um profundo inconformismo com a falta de áreas de lazer em nossa comunidade. Paraisópolis, reconhecida pelo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como a maior favela de São Paulo em população, abriga milhares de crianças, jovens, adultos e idosos que carecem de espaços acessíveis para relaxar, estimular a mente e desfrutar de momentos dedicados à leitura e ao lazer.

Aos 17 anos, logo após terminar o ensino médio, senti a necessidade de criar um movimento que conectasse os jovens da comunidade em torno da cultura e da poesia. Assim, cofundei a Batalha do Paraisópolis, um evento de batalhas de rimas que durou cinco anos e abriu portas para inúmeros jovens expressarem suas vozes. Um exemplo marcante é Otávio MC, que começou a rimar na batalha aos 13 anos e hoje, mais maduro, declama suas poesias no Slam Pró Paraisópolis, uma iniciativa do Pró que promove a literatura e a expressão artística com base nas vivências e sentimentos da nossa comunidade.

Nossa comunidade é vibrante, cheia de pessoas vivendo e sonhando em crescer aqui. Felizmente, contamos com um espaço especial: a biblioteca do Pró. Planejada em cada detalhe para acolher a comunidade, ela é um ambiente aconchegante, confortável e repleto de livros, oferecendo infinitas possibilidades para quem a frequenta.

Nas tardes de Paraisópolis, crianças e jovens podem ser vistos mergulhando em diferentes universos literários. Projetos como as tardes de poesia, os piqueniques poéticos coletivos e a Bebeteca — um espaço pensado para bebês e suas famílias — incentivam desde cedo o hábito da leitura e da brincadeira, algo que foi negado a muitos adultos em suas infâncias. A calçada literária, com mesas e cadeiras ao ar livre, convida moradores a desfrutarem da literatura em um ambiente descontraído.

A programação de férias é outro ponto alto, e como mãe de uma criança que frequenta a biblioteca e os demais programas, me enche de emoção ver o trabalho do Pró oferecendo atividades como rodas de leitura, oficinas de artesanato e outras ações voltadas para crianças e jovens. Na minha infância, espaços como esses não existiam. Não se pensava na infância periférica com suas particularidades raciais e sociais. Hoje, compreendemos melhor as diferenças e necessidades das nossas crianças e buscamos formas de atendê-las com afeto e respeito.

Atualmente, trabalho na comunicação do Pró e acompanho de perto as transformações que esses espaços promovem. Observar as crianças circulando por um ambiente de acolhimento e reflexão, repleto de afeto, me dá a certeza de que precisamos de muitos outros “Prós” nas periferias.

Como bem disse Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” E Paulo Freire complementa: “Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante.” É isso que esses espaços fazem: dão sentido à infância, ao conhecimento e aos sonhos de quem vive aqui.

Por muitos outros espaços como este em nossas periferias!

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