Quando chego no Pró pela biblioteca, sempre encontro a Lucy Maura, coordenadora da biblio, a Daniele Alves, educadora, e as estagiárias Emanuele Jardim, Maria Fernanda e Alexandra Silva. Também estão por lá as assistentes da biblioteca, Kethully Luanda e Ananda Silva. Até eu descer as escadas, que me levam para um quintal bem colorido e bonito, onde as crianças do Ler & Brincar se divertem, já me deparo com outras mulheres: educadoras, trabalhadoras da limpeza, gestoras de projetos, coordenadoras… tantas mulheres ocupando papéis essenciais na vida do Pró. É sempre um prazer encontrá-las, todas com tanta dedicação, em cada função que desempenham.
Por exemplo: vejo como elas organizam o intervalo entre uma turma do Ler & Brincar e outra. Cada brinquedo, cada espaço é cuidadosamente preparado para que as crianças possam brincar de várias formas. Algumas arrumam a mesa de tinta, outras preparam as bacias de alumínio para as crianças brincarem na caixa de areia com água. Outras ainda cuidam da área das fantasias. Fica tudo tão acolhedor, bonito e atraente para as crianças.
Também tem as mulheres do meu núcleo de trabalho, as do administrativo, que estão sempre pensando em como melhorar o espaço. Uma resolve o B.O. de como conseguir areia nova para a caixa de areia, outra libera os recursos para a compra da areia, outra analisa de onde esse recurso virá. Tem ainda quem organiza as aulas e o cotidiano dos jovens, e as que preparam nossas ricas refeições. É impressionante ver tantos movimentos, tantas mulheres, fazendo a roda girar. E isso é apenas uma parte do que elas fazem.
Porque, se você não sabe, as mulheres são 65% da força de trabalho em organizações sociais. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 65% dos postos de trabalho em organizações sociais são ocupados por mulheres. E é o trabalho delas, todos os dias, que faz a diferença, impactando positivamente o mundo. As mulheres do Pró atendem, cuidam, desenvolvem e buscam soluções para tantas crianças e jovens, todos os dias. E o resultado é claro: crianças desenvolvidas, alfabetizadas, com espaços limpos e acolhedores, jovens encaminhados para a universidade e, acima de tudo, reconhecimento. Não só em prêmios e elogios, mas no mais simples e verdadeiro agradecimento: o de uma criança, de uma família, de um jovem.
Esse trabalho carrega algo essencial: o amor pelo que se faz. Bell Hooks nos diz que trazer o amor para o ambiente de trabalho pode transformar o espaço e a experiência, permitindo que qualquer tarefa, por mais simples que seja, se torne um lugar onde os trabalhadores possam expressar o melhor de si mesmos. E eu vejo isso claramente, olhando para essas mulheres.
8 de março é um dia importante, mas todos os dias deveriam ser. Para que nós, mulheres, conquistemos nossa liberdade — a liberdade de nossas mentes, de nossos corpos, a liberdade de existir, de falar, de ser. E, para isso, o trabalho social realizado no Pró é essencial, porque ali, crianças, jovens e adultos da comunidade de Paraisópolis estão em um espaço onde elas podem explorar, imaginar, refletir, questionar, e tantos outros elementos trabalhados, como o respeito às diferenças entre as pessoas, e diálogos importantes para a formação de um ser humano.
Que nosso 8 de Março seja para nos reconhecermos como potências e agentes de mudança por um mundo anti-misógino, anti-racista e anti-tantas coisas que violem a vida do outro.
Um agradecimento especial às irmãs que trabalham com o propósito de uma comunidade melhor, pelo direito das crianças de serem crianças, nossas meninas, nossas jovens, e por oferecer o suporte para que cada uma de nós voe — para que, um dia, possamos ser livres.