“Escrever pra sentir: o nascimento de uma peça no Pró Jovens”

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Por Maria Clara de Assis Nunes, aluna do Módulo I, do Pró Jovens.

Quando entrei no Pró Jovens, nunca imaginei que escreveria uma peça de teatro inteira. Muito menos que, em algum momento, alguém como o Rafael Gomes — autor e diretor do filme Músicas para morrer de amor, inspirado na peça Músicas para cortar os pulsos — conheceria um pedacinho da história que escrevi.

Mas antes de falar desse encontro, quero contar um pouco do que acontece aqui no Pró.

No módulo 1 do Pró Jovens, toda a turma se envolve na criação coletiva de uma peça de teatro — do zero. Cada jovem escolhe uma função: atuação, direção, roteiro, cenário, luz, som, contrarregragem, figurino… tudo é pensado e produzido por nós. E, no final, apresentamos a peça construída juntos, com muito esforço e afeto.

No meu caso, fiquei responsável pelo roteiro. No começo, foi difícil. Eu tinha uma ideia, uma vontade, mas não sabia como começar, nem como transformar o que estava na minha cabeça em palavras.

Meu processo de escrita começou com música. Eu colocava uma canção que, pra mim, tinha a ver com a história que queria contar, e ia imaginando os personagens, os diálogos, os sentimentos, os cenários… tudo se formava como um filme na minha mente. Era como se eu assistisse à peça antes de escrevê-la.

O mais difícil foi transcrever as emoções. Eu sabia o que os personagens estavam sentindo, mas não sabia dar nome àquelas sensações. Então, decidi que, se não podia nomear, ia descrever. Escrevi os gestos, os silêncios, o jeito de olhar. E isso me ajudou muito.

A peça que escrevi fala sobre um menino tentando sobreviver sendo quem é, dentro de uma casa e de uma fé que o machucam. É uma história difícil, mas cheia de amor também. Fala de família, silêncio, promessas e resistências. Confesso que fiquei insegura. Fiquei com medo da turma não gostar, de parecer exagerado ou bobo. Mas aí veio a leitura em grupo — quando todos ouviram o texto — e aquele frio na barriga passou. Foi como tirar um peso do peito.

E logo depois aconteceu algo que eu nunca esperava: a visita do Rafael Gomes.

Ele veio ao Pró Jovens conversar com a gente sobre escrita, teatro, cinema e o processo de transformar uma ideia em algo que toca as pessoas. Ele contou sobre suas obras, sobre dirigir e escrever peças, e também sobre a adaptação da peça Músicas para cortar os pulsos para o cinema, que virou Músicas para morrer de amor. Foi uma conversa muito inspiradora.

E mesmo sem ele ter lido meu roteiro em voz alta, eu me senti com o mesmo frio na barriga que senti quando a turma toda leu o texto pela primeira vez. Mas saber que ele leu e que gostou… isso me deixou muito feliz. Me deu esperança. Me deu coragem.

No final do encontro, ganhei de presente o livro com o roteiro do filme Músicas para morrer de amor, escrito por ele. Vai ser minha próxima leitura — quero muito descobrir como aquelas palavras que ele escreveu se transformaram nas cenas do filme. Vai ser como assistir com outros olhos.

Hoje, olho pra essa peça como algo muito maior do que um roteiro. Ela virou uma forma de me escutar. De entender o que sinto. De lembrar que escrever também é um jeito de sobreviver.

Obrigada ao Pró Jovens por esse espaço tão nosso.

Obrigada ao Rafael pela presença e generosidade.

E obrigada a mim mesma por ter acreditado, mesmo com medo.

A peça ainda não foi apresentada — mas pra mim, ela já nasceu. E nasceu inteira.

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