Desafios para a valorização da herança africana no Brasil foi o tema do Enem 2024, um assunto de grande relevância para um país de população majoritariamente negra, como é o caso do Brasil. Aqui no Pró, essa pauta foi trabalhada ao longo do ano, especialmente por atender a um público periférico e em grande parte negro. Com a chegada do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), Maísa Maria, de 16 anos e aluna do programa Pró Jovens, compartilhou com a equipe: “Usei o passeio do Guia Negro como grande parte do meu repertório. Sou muito grata por poder usar as informações que recebi através das oportunidades do Pró.”
O Guia Negro é uma das atividades regulares do programa, que leva os jovens a conhecerem espaços negros e suas histórias, inclusive em locais que, apesar de terem sido embranquecidos ao longo do tempo, ainda carregam importantes referências à cultura afro-brasileira.
Luana Andrade, coordenadora do Pró Jovens, explica que o programa utiliza um “documento orientador” semelhante a um currículo escolar, que propõe discussões intencionais sobre temas de gênero, raça e classe social, criando um ambiente de aprendizado crítico. “Os jovens do programa têm contato com autores, ilustradores e profissionais que abordam essas questões, participando também de visitas a espaços culturais onde temas de inclusão e diversidade são aprofundados,” afirma Luana.
Para Maísa, as aulas foram essenciais para desenvolver uma compreensão mais profunda das relações raciais. “As aulas sempre abordam temas raciais, desde o teatro e a literatura até o mercado de trabalho. A professora Adriana, que é negra, traz experiências reais sobre o racismo estrutural. Essas reflexões me fizeram enxergar a importância de ouvir e respeitar quem vive essa realidade diariamente”, destaca Maísa.
Ela também aponta que o ensino médio convencional carece de abordagens sobre racismo, um retrocesso acentuado pelas recentes reformas curriculares, que excluíram disciplinas voltadas para essas questões. “No Pró, aprendi a pensar no outro, a entender as violências diárias que pessoas negras enfrentam. O passeio do Guia Negro no bairro da Liberdade foi muito importante, pois mostrou a herança afro-brasileira do bairro e suas potencialidades, que muitas vezes está escondida por histórias colonizadoras”, reflete.
Desde 2023, o Pró conta com um comitê dedicado a promover discussões raciais dentro da instituição. Após um ano de estudos e diálogos com outras organizações, o comitê propôs ações adaptadas à realidade do território e das equipes. “É um trabalho para conscientizar toda a equipe, desde o apoio até os coordenadores, sobre a importância de abordar questões raciais,” explica Luana.
O impacto desse trabalho é profundo e transformador. Durante visitas a ambientes corporativos, jovens do Pró-Saber SP percebem a ausência de diversidade racial nesses espaços. Essas vivências os encorajam a questionar as estruturas de poder e refletir sobre as barreiras criadas pelo racismo. Para Maísa, esse aprendizado é essencial, não apenas para entender as dinâmicas sociais, mas também para fortalecer sua formação como cidadã consciente e ativa.